É inútil negar. Famalicão pisca-nos o olho com o seu belo equipamento à Ajax azul.
O tema não é virgem… mas da terra onde Mitharski recuperou alguma da sua dignidade goleadora espera-se sempre qualquer coisa mais, assim como em cada defeso se espera por mais uma contratação de prestígio no domicílio da gaivota.
O tema não é virgem… mas da terra onde Mitharski recuperou alguma da sua dignidade goleadora espera-se sempre qualquer coisa mais, assim como em cada defeso se espera por mais uma contratação de prestígio no domicílio da gaivota.
Alguém como Chano. Porquê Chano? Ou melhor, por que não Chano?
Bem, o certo é que o chamamento tem tanto de irracional quanto de irresistível. E cá vamos nós outra vez, numa marcha pela máquina do tempo até 1995, o ano em que Bruno Caires perfez 19 cândidos aninhos.
O F.C.Famalicão já não respirava os ares impolutos da liga principal. Mas ainda era uma família feliz.
O F.C.Famalicão já não respirava os ares impolutos da liga principal. Mas ainda era uma família feliz.
Este quadro impressionista do Portugal pré-moderno faz-nos rejubilar com todo o seu esplendor cromático. Uma autêntica delícia para os sentidos (excepto, eventualmente, para o paladar, o gosto e o tacto. E talvez para a audição. Pronto, é apenas um deleite visual. Provavelmente).
Estavam aqui reunidos todos os predicados necessários para uma época em cheio. Não se descurou nenhum pormenor, nomeadamente:
- Um guarda-redes sósia do Fernando Couto, ou apenas alguém que tropeçou em cima de uma esfregona depois de besuntado em cola, ladeado por um esguio colega cujo fotógrafo ousou cortar da História;
- Um outro goleiro que cruza as mãos de forma semi-bíblica em honra ao seu patrocinador de luvas;
- Um dirigente com bigode e possuindo um gosto pelo kitsch digno de envergonhar qualquer Nel Monteiro;
- Uma equipa técnica onde pontificam indivíduos de bigode old-school e outros de boné e apito a tiracolo;
- Um sujeito gordo que seria a) o roupeiro, b) quem explorava o bar do clube, c) o dono da máquina fotográfica, ou d) uma infeliz coincidência espácio-temporal.
Como o tempo urge, debrucemo-nos sobre alguns casos particulares.O timoneiro desta nau, Francisco Vital, está ufano com o seu boné, inspirador de tendências Motianas e ocultador da calvície galopante. Quem não se lembra deste fantástico treinador nos seus noventa minutos de infâmia em Leverkusen? Fazemos questão de não olvidar.
Estavam aqui reunidos todos os predicados necessários para uma época em cheio. Não se descurou nenhum pormenor, nomeadamente:
- Um guarda-redes sósia do Fernando Couto, ou apenas alguém que tropeçou em cima de uma esfregona depois de besuntado em cola, ladeado por um esguio colega cujo fotógrafo ousou cortar da História;
- Um outro goleiro que cruza as mãos de forma semi-bíblica em honra ao seu patrocinador de luvas;
- Um dirigente com bigode e possuindo um gosto pelo kitsch digno de envergonhar qualquer Nel Monteiro;
- Uma equipa técnica onde pontificam indivíduos de bigode old-school e outros de boné e apito a tiracolo;
- Um sujeito gordo que seria a) o roupeiro, b) quem explorava o bar do clube, c) o dono da máquina fotográfica, ou d) uma infeliz coincidência espácio-temporal.
Como o tempo urge, debrucemo-nos sobre alguns casos particulares.O timoneiro desta nau, Francisco Vital, está ufano com o seu boné, inspirador de tendências Motianas e ocultador da calvície galopante. Quem não se lembra deste fantástico treinador nos seus noventa minutos de infâmia em Leverkusen? Fazemos questão de não olvidar.
Paulo Brás, o multicolorido e famoso guarda-redes que pediu emprestado o seu nome ao bacalhau homónimo. As más-línguas dizem que Brás apenas encontrou o seu espaço nesta galáxia de cromos por ter um gosto pelo vestuário semelhante ao do dirigente que se vê na foto de família. Todavia, isso são apenas atoardas de gente mal-intencionada. Paulo Brás era cromo por mérito próprio e isso vê-se pelo sorriso arrojado que conservava em qualquer situação, especialmente quando era designado a convidar Joãozinho a cessar o seu aquecimento e a entrar no glorioso relvado do Estádio Municipal 22 de Junho.
Joãozinho? Sim, Joãozinho, pequeno no nome mas grande na traquinice. Inseparável apreciador de rebuçados do Doutor Bayard, Joãozinho franzia o sobrolho perante as adversidades e tratava o perigo por tu. Recebia apenas um Sumol como prémio de jogo e ficava todo contente ao saber que, ao contrário do Capri-Sonne, o Sumol já tinha gás – algo que o enchia de orgulho, bem como de problemas do foro gástrico. Joãozinho conferiu uma lufada de ar fresco no balneário famalicense. Especialmente antes de se descalçar.
Quando Joãozinho se descalçava, Pica perdia a pica. Pica não suportava maus odores, especialmente os que não fossem dele. E, diz quem sabe, também não sentia muita pica para jogar à bola. Devido ao comprimento assombroso das suas unhas e à sua técnica apurada, furou algumas bolas e assim fez jus ao nome. Preferia coleccionar selos e calendários e detestava trocadilhos fáceis. Enfim.
Tó Mané, o Sérgio Conceição de Famalicão, construiu o seu afamado nome por estes lados. Todo ele estilo, todo ele classe, manejava com uma perícia inata qualquer substância gelatinosa que se assemelhasse a gel para o cabelo. Uma vez conseguiu um passe perfeito a 50 metros. Mas ninguém viu, o sonho era só dele. Monopolizou o comércio de azeite acima do Rio Ave e granjeou fama por ter resistido a um tufão na América Central sem que o seu cabelo se mexesse. Discutiu bastas vezes com Rosado sobre quem era o verdadeiro galã do balneário.
Rosado, o próprio, dispensa apresentações. Parente distante de Clark Gable, arrasava corações de emigrantes portuguesas no Luxemburgo e pernas adversárias com a mesma facilidade. Uma figura proeminente do imaginário popular, contratada expressamente para guindar Famalicão de novo às luzes da ribalta. Porém, desistiu deste papel ao fim do segundo copo de bagaço e a vida dele por Famalicão repartiu-se entre frequentes visitas aos lavabos e cortes esporádicos no lábio, ao tentar controlar o seu indomável fio supra-labial de pêlo.
No fim desta viagem que nos fez gravitar nas asas da saudade, espera-nos o saudoso Medane, argelino que deu o corpo à expressão “cabelo à tigela”. Medane era a alma dos anos 90, na ressaca do fenómeno grunge. Também foi um avançado que se perdeu de amores pelas bolas bombeadas em profundidade e pelas franjas meticulosamente cuidadas do seu altivo cabelo, que limava como se de um Bonsai se tratasse no início e no fim de cada treino à porta fechada. Cerca de 1,65m de puro estrondo estilístico, que fez as delícias de qualquer aprendiz de barbeiro. Verdadeiro joker do Baixo Minho, Medane era sobejamente conhecido pela graça com que levava calduços de todo o plantel.
Como nota de rodapé, e embora não venha propriamente ao encontro do que já foi escrito nem seja algo de muito relevante para esta exposição, convém esclarecer que este portentoso plantel não recebeu as loas da glória e acabou despromovido no final da época 1995/96. Actualmente, o F.C. Famalicão deambula, em jeito de sombra errante, pela AF Braga. Snif.
25 comentários:
Fantastico post, como sempre! Fartei de me rir aqui no escritorio!
Gostava mesmo muito de conhecer a identidade dos dois bigodes farfalhudos a esquerda da foto. Atrevo-me a dizer que um deles sera o delegado e o outro o treinador de guarda-redes...
O MEU Famalicão...já não havia Tanta, Lula, Barnjak nem Ben-Hur, mas havia ainda Medane, primo do outro argelino - de nome quase acrónimo -que foi a nossa glória e a nossa desgraça - MENAD(ainda hoje o FCF, pelas ruas da Distrital, paga este jogador). Havia ainda Tito, defesa-esquerdo pé-canhão que depois brilhou no Belenenses (ao lado de Menad) e, se não me engano, Piguita, "o Homem qu'Irrita", à época emprestado pelo Porto.
Um bem-haja pelo vosso post - o FCF vive para sempre no nosso imaginário Cacciolesco (tb por lá andou)
E o barbudo do Vieira ja os tn abandonado? Sempre foi 1 dos meus cromos d eleição..
Alguém sabe onde ele para actualmente?
Um André Jacaré pra tds vós XD
Que grande post.
Há muito a realçar, mas prefiro frisar que segundo a minha pesquisa, o Rosado terá sido o último verdadeiro bigode da I Divisão.
O que é triste, visto que o homem já terá deixado de jogar há 10 anos.
Enfim...
Mas parabéns em forma de pudim de Abazaj, pá. Grande post ;)
Grande post mesmo. Dos melhores q tenho visto aqui. Parabéns aos 3 "donos" deste blog. Muito bom mesmo.
Folgo em saber que ainda há gente a trabalhar neste mês e que contribuimos humildemente para o acréscimo de produtividade neste país. Um forte Menad com spread bonificado de 0% para a massa associativa que nos acompanha ao sol, à chuva e ao vento.
Relativamente ao Vieira, ele fugiu de Famalicão justamente em 1995. Ele tornou-se muito esquivo desde que viu o que a equipa de reportagem da RTP sofreu em consequência de um golo dele nas Antas em 1993 e sentiu que se ficasse neste plantel isso conferir-lhe-ia demasiada exposição pública. Eis o percurso do "one-goal wonder" Vieira:
VIEIRA
(José Rafael Rios Soares Vieira)
4/4/1970 na Vila das Aves
Defesa
1987/88 Aves
1988/89 Aves
1989/90 Aves
1990/91 Aves
1991/92 Famalicão
1992/93 Famalicão
1993/94 Famalicão
1994/95 Famalicão
1995/96 Nacional
1996/97 Chaves
1997/98 Chaves
1998/99 Aves
1999/00 Aves
2000/01 Aves
2001/02 Aves
2002/03 Aves
2003/04 Aves
Muito bom post.
Um Miguel Serôdio para todos vós
Incrivel... como falar em Famalicão e não falar no grande Celestino! O homem que bisou em pleno estádio da Luz... pena que se enganou na baliza... 2 vezes!
Rodrigues o grande heroi desse jogo nas Antas nao foi Vieira foi o GR To???? que mais tarde viria a ser acusado de praticas menos desportivas em Leca salvo erro.
Quanto aos agressores do locutor da RTP, mais tarde vim a saber que se tornaram dirigentes desportivos num clube de Gondomar.
PS: O novo selecionador da Lituania e Jose Couceiro
O Tó [Ferreira] até pode ter sido o GR nesse jogo (acredito que tenha antes sido o Luís Vasco), mas o Vieira marcou o golo da vitória.
Pobre Lituânia.
Cá está o Vieira, numa bela reportagem barbuda:
http://www.record.pt/noticia.asp?id=745098&idCanal=26
Mas tenho a ideia do verdadeiro herói dos Fama Boys nesse jogo ter sido o imortal avançado Toni, que vestia de azul e branco, mas da casa.
Esse Miguel Serodio faz-me lembrar a grande concentracao cromatica do Farense dos anos 90. Ora vejam la:
- Rufai
- Miguel Serodio
- Paixao (um habitue aqui do blog)
- Toi
- Punisic
- Hajry
- Carlos Costa
- Hassan
- Braulio
- Pintassilgo
E muitos mais...
Nao esquecamos tambem o grande redes Mijanovic ;-)
E Barrigana :-)
E tambem o grande Paiva ;-)
E como esquecer claro o Mister Paco Fortes, uma lenda da bola algarvia!
EUGENIO!!!! O tuga com aspecto mais mouro que conheço.
O Bigode do Paco Fortes era pura poesia em forma capilar.
Era isso e a dentuça do Hugo, marca de grandes jogadores do calibre de Recoba e Saviola.
Foi o To Ferreira...
Mas a grande estrela foi sem o Duvida o Toni
Mais boas noticias do jornal o jogo
Cléber, o clone do portista Lino
R.S.
Lino deixou a Académica no Verão de 2007 para ingressar no FC Porto, mas só passado um ano o emblema de Coimbra parece ter encontrado um digno sucessor. A principal imagem de marca do defesa-esquerdo brasileiro que agora representa os tricampeões nacionais é a cobrança de livre directos - marcou alguns quando esteve na cidade do Mondego e ainda no domingo concretizou um no particular que os "dragões" fizeram frente ao Bochum -, um dom especial que parece ser comum a Cléber Manttuy
FAMALICÃO!!
Deixem-me recompor que ainda estou choroso tal é a saudade do clube do Secretário e do Figueiredo!!
O cheiro a Piguita e Zé Nando no ar poluído pelos pés de Lila...
Mais uma lágrima me cai. Estou choroso mas feliz...
Um bem haja por este post!
Um abraço a todos e uma tacinha de arroz doce com um Mihtarski desenhado a canela para o Rodrigues, em agradecimento pelo post.
Quo o Grande defesa direito do Real Madrid vos acompanhe.
Ivo
Já agora oh Fitzx, já que falamos em bigodaças, acho que não podemos descurar a postura capilar sobrelabial do Marco Aurélio do Sporting!
Era aquele bigode tratado, que tratava o bigode do António Borges com desdém e superioridade!
Era um bigode marialva, que impunha respeito com subtileza, sem cheiro a vinho tinto carrascão e couratos...
Um belo bigode, digno de ser "O" último bigode!
Vale a pena pensar nisto...
Um abraço, e como o Saber não ocupa lugar, cá vai mais um bocado para todos vós...
Ivo
Fitzx: A dentuça do Hugo tá hoje ao balcão d uma drogaria em St. Bárbara d Nexe, Faro.. Ainda hoje o vi k a filha dele tb ela já k uns incisivos bastante apreciáveis ..
Um grande blog.
¿Trocas links? Se interessa-te responde em meu blog: http://marcador-desportivo.blogspot.com/
Um saúdo.
Grande Famalicão. Impõe-se um regresso ainda mais cromático.
mas gostaria de ver todos os seus bigodes sr.fitzx....
Noémia Pires
Alguns esclarecimentos :) recordo estes tempos com imensa saudade, misturado com sentimentos de tristeza devido ao caminho que o meu famalicao levou.
Quantas ás fotos.O primeiro da esquerda de bigode é o massagista, o segundohomem da esquerda nao é menos do o Dr salazar coimbra, na altura medico do clube e agora medico do guimaraes.
bons velhos tempos.
FORÇA FAMALICAO
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